Como pode ser re-harmonizada uma melodia dada?
Quais são os elementos que podem ser
variados, quais as técnicas usadas? A re-harmonização é um aspecto muito interessante e às
vezes pouco estudado. Existem várias técnicas, algumas delas muito sofisticadas, mas brevemente
podemos oferecer algumas idéias para aprender como abordar o assunto. A primeira
coisa a dizer é a seguinte: três são os elementos fundamentais da música: melodia, harmonia
e ritmo. A combinação desses três elementos gera a música, e todas as possíveis variações
dela. Mudando as características de alguns desses elementos podemos gerar novas combinações,
novas cores para “vestir de novo” a nossa melodia. E’ como se a melodia representasse
um corpo, uma figura que, através das técnicas, nós vestimos, arranjando-a de formas diferentes.
Entre as possibilidades de re-harmonização, podemos escolher um tipo de harmonia a ser
usada (tonal, atonal, politonal, modal); escolher o tipo de sonoridade (por exemplo harmonia
construída principalmente por quintas, por quartas, por técnicas mistas, etc...); podemos trabalhar
o ritmo, a levada, transformar um tempo de 4/4 em 5/4 ou em 6/4. Vale a pena notar,
aqui, como o aspecto rítmico é importante para identificar uma melodia; podemos fazer um
experimento: escolhemos uma melodia e mudamos a duração das notas; o que acontece é que
a melodia fica irreconhecível. Ao contrário, se mudarmos a altura de algumas notas da melodia
mantendo a duração certa das notas, a melodia será reconhecível, mesmo com algumas
notas mudadas.
Agora vamos analisar algumas melodias conhecidas e, através delas, mostraremos algumas
possibilidades de re-harmonização:
1) Jingle Bells. O primeiro exemplo mostra a re-harmonização de uma melodia cuja extensão
é de apenas uma quinta justa (de Do a Sol). A tonalidade é a de Do maior, mas se trata de
uma “tonalidade estendida” conforme o pensamento de Schenker, que admite o uso de dominantes
secundárias e empréstimos modais. A harmonia abaixo resulta mais rica do que a original,
mas as principais funções harmônicas ficam mantidas: (*)

(*) Nota o último acorde: DbMa7. Este deve ser considerado como acorde de subdominante da tonalidade
“estendida” de Do maior.
Outra hipótese para “vestir” esta melodia de uma maneira diferente pode ser a de mudar o
ritmo. Nesse caso um ritmo em 6/4 rende a música mais rápida e alegre. Nesse exemplo
temos a sobreposição do tempo ternário com uma parte da melodia que anda em tempo binário.
Isso provoca um efeito interessante:

O nosso arranjo pode mudar conforme a orquestra ou o conjunto para o qual escrevemos.
O próximo exemplo mostra uma harmonização modal que usa a técnica dos “blockchords”.
Essa é uma técnica homo-rítmica muito usada pelos arranjadores norte-americanos desde os
anos vinte, nas orquestras de jazz. Podemos pensar, por exemplo, a um quarteto com dois
trombones, dois trumpetes tocando a melodia e dois saxes tocando a segunda voz -na verdade
se esta fosse a formação para a qual eu escrevesse esta passagem, eu faria uma transposição
de uma terça ou uma quarta para cima, devido à altura da melodia. A transposição, na
minha opinião, daria mais brilho. Mas o exemplo, que pode muito bem ser tocado no piano,
serve para mostrar uma re-harmonização bem diferente da primeira:

A seqüência harmônica usada tem um caráter modal, e mantém o mesmo tipo de acordes.
Deixamos de ter uma área tonal, para ter cores, acordes em movimento sem uma função
tonal (pelo menos, até chegar a uma determinação tonal). Notem a direção ascendente dos
acordes e das notas em geral: todas as notas andam em direção ascendente (a não ser a melodia)
e vão de encontro à melodia. Podemos pensar em inverter a seqüência harmônica e tratar
os acordes com um andamento descendente, o que, por exemplo, teria menos tensão:

Por último, faremos uma re-harmonização usando só acordes maiores. O afastamento da
tonalidade é enorme e o efeito é incrível para terminar uma música. Por isso usaremos os
dois últimos compassos da nossa melodia inicial:

2) Parabéns para você. Como você sobreviveu e chegou até esse ponto, quero parabenizá-
lo com uma re-harmonização de uma música que todo o mundo conhece... mas não
dessa forma:

Desta vez se trata de um trabalho mais complexo; não tem uma tonalidade bem definida; se
dão algumas áreas tonais sem nenhuma referência entre elas; têm cores que se misturam e
o tema quase não se reconhece; isto porque estamos acostumados a reconhecê-lo em circunstâncias
tonais. Notem, também que, normalmente, estamos acostumados a pensar nessa
melodia como se fosse uma valsa (6/8); o que não acontece aqui, onde está escrita em 4/4.
Fonte: www.turicollura.com
variados, quais as técnicas usadas? A re-harmonização é um aspecto muito interessante e às
vezes pouco estudado. Existem várias técnicas, algumas delas muito sofisticadas, mas brevemente
podemos oferecer algumas idéias para aprender como abordar o assunto. A primeira
coisa a dizer é a seguinte: três são os elementos fundamentais da música: melodia, harmonia
e ritmo. A combinação desses três elementos gera a música, e todas as possíveis variações
dela. Mudando as características de alguns desses elementos podemos gerar novas combinações,
novas cores para “vestir de novo” a nossa melodia. E’ como se a melodia representasse
um corpo, uma figura que, através das técnicas, nós vestimos, arranjando-a de formas diferentes.
Entre as possibilidades de re-harmonização, podemos escolher um tipo de harmonia a ser
usada (tonal, atonal, politonal, modal); escolher o tipo de sonoridade (por exemplo harmonia
construída principalmente por quintas, por quartas, por técnicas mistas, etc...); podemos trabalhar
o ritmo, a levada, transformar um tempo de 4/4 em 5/4 ou em 6/4. Vale a pena notar,
aqui, como o aspecto rítmico é importante para identificar uma melodia; podemos fazer um
experimento: escolhemos uma melodia e mudamos a duração das notas; o que acontece é que
a melodia fica irreconhecível. Ao contrário, se mudarmos a altura de algumas notas da melodia
mantendo a duração certa das notas, a melodia será reconhecível, mesmo com algumas
notas mudadas.
Agora vamos analisar algumas melodias conhecidas e, através delas, mostraremos algumas
possibilidades de re-harmonização:
1) Jingle Bells. O primeiro exemplo mostra a re-harmonização de uma melodia cuja extensão
é de apenas uma quinta justa (de Do a Sol). A tonalidade é a de Do maior, mas se trata de
uma “tonalidade estendida” conforme o pensamento de Schenker, que admite o uso de dominantes
secundárias e empréstimos modais. A harmonia abaixo resulta mais rica do que a original,
mas as principais funções harmônicas ficam mantidas: (*)
(*) Nota o último acorde: DbMa7. Este deve ser considerado como acorde de subdominante da tonalidade
“estendida” de Do maior.
Outra hipótese para “vestir” esta melodia de uma maneira diferente pode ser a de mudar o
ritmo. Nesse caso um ritmo em 6/4 rende a música mais rápida e alegre. Nesse exemplo
temos a sobreposição do tempo ternário com uma parte da melodia que anda em tempo binário.
Isso provoca um efeito interessante:
O nosso arranjo pode mudar conforme a orquestra ou o conjunto para o qual escrevemos.
O próximo exemplo mostra uma harmonização modal que usa a técnica dos “blockchords”.
Essa é uma técnica homo-rítmica muito usada pelos arranjadores norte-americanos desde os
anos vinte, nas orquestras de jazz. Podemos pensar, por exemplo, a um quarteto com dois
trombones, dois trumpetes tocando a melodia e dois saxes tocando a segunda voz -na verdade
se esta fosse a formação para a qual eu escrevesse esta passagem, eu faria uma transposição
de uma terça ou uma quarta para cima, devido à altura da melodia. A transposição, na
minha opinião, daria mais brilho. Mas o exemplo, que pode muito bem ser tocado no piano,
serve para mostrar uma re-harmonização bem diferente da primeira:
A seqüência harmônica usada tem um caráter modal, e mantém o mesmo tipo de acordes.
Deixamos de ter uma área tonal, para ter cores, acordes em movimento sem uma função
tonal (pelo menos, até chegar a uma determinação tonal). Notem a direção ascendente dos
acordes e das notas em geral: todas as notas andam em direção ascendente (a não ser a melodia)
e vão de encontro à melodia. Podemos pensar em inverter a seqüência harmônica e tratar
os acordes com um andamento descendente, o que, por exemplo, teria menos tensão:
Por último, faremos uma re-harmonização usando só acordes maiores. O afastamento da
tonalidade é enorme e o efeito é incrível para terminar uma música. Por isso usaremos os
dois últimos compassos da nossa melodia inicial:
2) Parabéns para você. Como você sobreviveu e chegou até esse ponto, quero parabenizá-
lo com uma re-harmonização de uma música que todo o mundo conhece... mas não
dessa forma:
Desta vez se trata de um trabalho mais complexo; não tem uma tonalidade bem definida; se
dão algumas áreas tonais sem nenhuma referência entre elas; têm cores que se misturam e
o tema quase não se reconhece; isto porque estamos acostumados a reconhecê-lo em circunstâncias
tonais. Notem, também que, normalmente, estamos acostumados a pensar nessa
melodia como se fosse uma valsa (6/8); o que não acontece aqui, onde está escrita em 4/4.
Fonte: www.turicollura.com
A re-harmonização de uma melodia
Reviewed by Flaviano Silva
on
17:37
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